A Europa sofre actualmente da doença da estagnação. As causas desta estagnação económica são múltiplas, mas têm principalmente duas vertentes, uma de curto prazo e a outra de longo prazo. A curto prazo, a principal condicionante da performance económica europeia relaciona-se tanto com a política monetária como com as exigências impostas pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento. A longo prazo, a posição competitiva da Europa passa pela resolução da mais fundamental questão que a Europa enfrenta: o que fazer para que a economia do Velho Continente se torne mais criativa e dinâmica a nível tecnológico? Analisemos então estas duas vertentes.
A curto prazo, as principais causas da estagnação económica europeia têm origem em dois factores: o abrandamento económico mundial e a politica económica europeia. O abrandamento económico mundial relaciona-se não só com a ressaca dos excessos dos anos 90, como também com as crises financeiras que assolaram vários países do mundo. A baixa procura externa e o clima de pessimismo generalizado são, assim, em parte responsáveis pelo enfraquecimento da economia europeia. Contudo, já poucos analistas negam o que se tornou óbvio. A política económica é a principal culpada pelo abrandamento económico no Velho Continente. Por um lado, e contrariamente aos Estados Unidos, a política monetária europeia tem sido fortemente restritiva. Existem boas razões para isto. Apesar dos temporários efeitos nefastos na economia real, a verdade é que a contenção da política monetária na zona Euro foi praticamente vital para a futura estabilidade e solidez da moeda única europeia. Como o Banco Central Europeu (BCE) e o Euro foram criados há pouco tempo, era fundamental que as autoridades monetárias europeias afirmassem a sua independência face ao poder político e não claudicassem demasiado cedo perante as pressões a que foram sujeitas. Assim, parte da actual recessão económica europeia é o preço que temos que pagar pelo estabelecimento da credibilidade do BCE. Ora, se a política monetária não foi expansionista, a política fiscal também não o foi na maioria dos países (Portugal foi uma grande excepção), graças às imposições do Plano de Estabilidade e Crescimento. Assim, o PEC contribuiu em grande parte para a asfixia económica europeia. É certo que, em muitos aspectos, o PEC é bem menos estúpido do que o antigo Presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, nos fez crer. Afinal, se não fosse o PEC, a que nível estaria agora o défice português ou a que ponto teriam chegado as irresponsabilidades fiscais dos italianos? Não, o PEC não é estúpido porque impôs disciplina fiscal num momento crucial da construção monetária europeia. A “estupidez” do PEC relaciona-se com a sua falta de flexibilidade e com a inexistência de solidariedade fiscal entre os países da Eurolândia. Quando estes problemas forem resolvidos e a credibilidade do BCE estiver assegurada, então as políticas fiscais e monetárias poderão novamente ajudar à estabilização e ao crescimento de curto prazo da economia europeia.
A curto prazo, as principais causas da estagnação económica europeia têm origem em dois factores: o abrandamento económico mundial e a politica económica europeia. O abrandamento económico mundial relaciona-se não só com a ressaca dos excessos dos anos 90, como também com as crises financeiras que assolaram vários países do mundo. A baixa procura externa e o clima de pessimismo generalizado são, assim, em parte responsáveis pelo enfraquecimento da economia europeia. Contudo, já poucos analistas negam o que se tornou óbvio. A política económica é a principal culpada pelo abrandamento económico no Velho Continente. Por um lado, e contrariamente aos Estados Unidos, a política monetária europeia tem sido fortemente restritiva. Existem boas razões para isto. Apesar dos temporários efeitos nefastos na economia real, a verdade é que a contenção da política monetária na zona Euro foi praticamente vital para a futura estabilidade e solidez da moeda única europeia. Como o Banco Central Europeu (BCE) e o Euro foram criados há pouco tempo, era fundamental que as autoridades monetárias europeias afirmassem a sua independência face ao poder político e não claudicassem demasiado cedo perante as pressões a que foram sujeitas. Assim, parte da actual recessão económica europeia é o preço que temos que pagar pelo estabelecimento da credibilidade do BCE. Ora, se a política monetária não foi expansionista, a política fiscal também não o foi na maioria dos países (Portugal foi uma grande excepção), graças às imposições do Plano de Estabilidade e Crescimento. Assim, o PEC contribuiu em grande parte para a asfixia económica europeia. É certo que, em muitos aspectos, o PEC é bem menos estúpido do que o antigo Presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, nos fez crer. Afinal, se não fosse o PEC, a que nível estaria agora o défice português ou a que ponto teriam chegado as irresponsabilidades fiscais dos italianos? Não, o PEC não é estúpido porque impôs disciplina fiscal num momento crucial da construção monetária europeia. A “estupidez” do PEC relaciona-se com a sua falta de flexibilidade e com a inexistência de solidariedade fiscal entre os países da Eurolândia. Quando estes problemas forem resolvidos e a credibilidade do BCE estiver assegurada, então as políticas fiscais e monetárias poderão novamente ajudar à estabilização e ao crescimento de curto prazo da economia europeia.
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Porém, o grande problema da Europa não se deve directamente à condução da política económica. O grande problema da Europa é estrutural e não conjuntural. Quais são então as razões da divergência da economia europeia em relação à sua congénere americana nas últimas duas décadas?
As causas da divergência europeia em relação à economia americana prendem-se, acima de tudo, com o menor dinamismo tecnológico da Europa em relação aos EUA. De facto, nas últimas décadas, a Europa tem falhado sistematicamente a nível da inovação tecnológica. Ora, se os Estados Unidos são a maior potência mundial a nível económico e militar é porque os motores de crescimento e do progresso técnico americanos são manifestamente superiores aos seus mais directos competidores, como a Europa. Se não vejamos. As maiores e mais importantes tecnologias dos últimos 150 anos foram quase todas inventadas ou desenvolvidas pela economia americana. Assim, a electricidade, os métodos de produção em massa, o transístor, os automóveis, os aviões, os semicondutores, os computadores, a indústria de software, a Internet, a indústria espacial, entre muitas outras, foram todas desenvolvidas primeiramente na economia americana. Em todas estas tecnologias os americanos foram os líderes e os europeus (e os japoneses) os seguidores. Deste modo, os Estados Unidos têm sistematicamente sido os pioneiros incontestáveis na inovação e desenvolvimento tecnológico. Urge então questionar: porque é que a Europa tem falhado na mais importante área de competição económica? Quais são as vantagens que têm permitido aos EUA manterem-se como líderes tecnológicos e económicos?
Porém, o grande problema da Europa não se deve directamente à condução da política económica. O grande problema da Europa é estrutural e não conjuntural. Quais são então as razões da divergência da economia europeia em relação à sua congénere americana nas últimas duas décadas?
As causas da divergência europeia em relação à economia americana prendem-se, acima de tudo, com o menor dinamismo tecnológico da Europa em relação aos EUA. De facto, nas últimas décadas, a Europa tem falhado sistematicamente a nível da inovação tecnológica. Ora, se os Estados Unidos são a maior potência mundial a nível económico e militar é porque os motores de crescimento e do progresso técnico americanos são manifestamente superiores aos seus mais directos competidores, como a Europa. Se não vejamos. As maiores e mais importantes tecnologias dos últimos 150 anos foram quase todas inventadas ou desenvolvidas pela economia americana. Assim, a electricidade, os métodos de produção em massa, o transístor, os automóveis, os aviões, os semicondutores, os computadores, a indústria de software, a Internet, a indústria espacial, entre muitas outras, foram todas desenvolvidas primeiramente na economia americana. Em todas estas tecnologias os americanos foram os líderes e os europeus (e os japoneses) os seguidores. Deste modo, os Estados Unidos têm sistematicamente sido os pioneiros incontestáveis na inovação e desenvolvimento tecnológico. Urge então questionar: porque é que a Europa tem falhado na mais importante área de competição económica? Quais são as vantagens que têm permitido aos EUA manterem-se como líderes tecnológicos e económicos?
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Os culpados pelo atraso tecnológico europeu são praticamente idênticos aos culpados pelo atraso português em relação à média europeia. Os europeus têm uma menor qualidade a nível do capital humano, possuímos uma burocracia excessiva na criação e falência de empresas, fomentamos a permanência de sindicatos e empresas cristalizadas no tempo, permitimos mercados de trabalho demasiado inflexíveis, negligenciamos a competição nos mercados de tecnologias emergentes, impedimos a importação de mão-de-obra altamente qualificada, e dispomos de instituições desajustadas ao estonteante ritmo do progresso técnico. Se a estes factores juntarmos a estreita mas subtil colaboração que a indústria americana mantém com os sectores estatais da defesa (por exemplo, na indústria dos semicondutores, ou no sector do hardware informático) e com as universidades, temos então explicado grande parte do repetido sucesso tecnológico americano e o insucesso europeu. Os americanos têm mantido uma persistente liderança tecnológica porque os seus motores de crescimento têm sido capazes de se regenerarem continuamente. Contrariamente, a Europa insiste em apostar em politicas de curto prazo, negligenciando reformas estruturais a nível do mercado de trabalho, da política de competição, e na reforma das instituições.
Os culpados pelo atraso tecnológico europeu são praticamente idênticos aos culpados pelo atraso português em relação à média europeia. Os europeus têm uma menor qualidade a nível do capital humano, possuímos uma burocracia excessiva na criação e falência de empresas, fomentamos a permanência de sindicatos e empresas cristalizadas no tempo, permitimos mercados de trabalho demasiado inflexíveis, negligenciamos a competição nos mercados de tecnologias emergentes, impedimos a importação de mão-de-obra altamente qualificada, e dispomos de instituições desajustadas ao estonteante ritmo do progresso técnico. Se a estes factores juntarmos a estreita mas subtil colaboração que a indústria americana mantém com os sectores estatais da defesa (por exemplo, na indústria dos semicondutores, ou no sector do hardware informático) e com as universidades, temos então explicado grande parte do repetido sucesso tecnológico americano e o insucesso europeu. Os americanos têm mantido uma persistente liderança tecnológica porque os seus motores de crescimento têm sido capazes de se regenerarem continuamente. Contrariamente, a Europa insiste em apostar em politicas de curto prazo, negligenciando reformas estruturais a nível do mercado de trabalho, da política de competição, e na reforma das instituições.
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Assim, no futuro, a maior questão que se coloca à Europa não é se este ou aquele país irá conseguir equilibrar as suas contas orçamentais, ou se este ou aquele país tem direito a este ou àquele comissário europeu. As recentes polémicas com os défices são assim meras distracções daquilo que são as verdadeiras questões de fundo da Europa. Neste sentido, é preciso entender de uma vez por todas que a Europa precisa de se emancipar tecnológica e economicamente para se poder afirmar politicamente. Para tal, a Europa precisa de se reformar, sob pena de nas próximas décadas continuar a ser um mero actor figurativo nas relações políticas e económicas mundiais.
Assim, no futuro, a maior questão que se coloca à Europa não é se este ou aquele país irá conseguir equilibrar as suas contas orçamentais, ou se este ou aquele país tem direito a este ou àquele comissário europeu. As recentes polémicas com os défices são assim meras distracções daquilo que são as verdadeiras questões de fundo da Europa. Neste sentido, é preciso entender de uma vez por todas que a Europa precisa de se emancipar tecnológica e economicamente para se poder afirmar politicamente. Para tal, a Europa precisa de se reformar, sob pena de nas próximas décadas continuar a ser um mero actor figurativo nas relações políticas e económicas mundiais.
1 comentário:
Concordo consigo: a capacidade de inovar é fundamental no crescimento economico.
Discordo sobre os "culpados" que aponta. Em relação às leis laborais penso que é mais um mito e pode ter os mesmos efeitos que a desvalorização cambial teve ao impedir a reestruturação de uma indústria obsoleta. A tendência será para diminuirmos os custos do trabalho e começarmos a competir com a China na captação de investimento baseado em mão-de-obra não qualificada.
Fico por aqui porque não gosto de comentários maiores do que os posts do bloguer.
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