02 outubro 2010

AUSTERIDADE E RECESSÃO

O Jornal Expresso fez-me algumas perguntas sobre o impacto das novas medidas de austeridade. Aqui estão as minhas respostas:

Expresso - Qual o impacto que as medidas ontem anunciadas pelo Governo poderão ter sobre a economia?
Há inúmeros exemplos que demonstram que as consolidações orçamentais não têm que ser recessivas, desde que se façam pelo lado da despesa. O problema é que as medidas agora anunciadas acarretam também um novo agravamento da carga fiscal, que é muito considerável. Obviamente, este é um erro tremendo e que, se for aprovado, iremos pagar muito caro com mais recessão, mais desemprego, e mais emigração.

Expresso - Face às medidas anunciadas, acha que Portugal terá uma nova recessão?
Não há nada nos cortes da despesa que me faça concluir que o impacto na economia será negativo. Bem pelo contrário. O problema é que este governo insiste em aumentar os impostos, o que, sem dúvida alguma, terá um efeito recessivo na economia nacional. Por isso, e já que o Ministro das Finanças não sabe onde cortar mais, esperemos que os partidos da oposição façam as contas e sugiram ao governo cortes adicionais da despesa, que poderiam ser introduzidos em vez de subirmos os impostos dos portugueses.

Expresso - As medidas anunciadas são, ou não, suficientes para Portugal conseguir cumprir os objetivos para o défice de 7,3% do PIB este ano e 4,6% do PIB em 2011?
Sinceramente não sei. Este governo tem permitido tantas derrapagens orçamentais e tem levado a cabo tantos malabarismos contabilísticos que é difícil afirmar com a certeza absoluta de que estas medidas serão suficientes. Esperemos que sim, pois fazer austeridade a conta gotas é meio caminho andado para termos uma recessão durante largos e penosos anos. Mesmo assim, e em última análise, penso que o objectivo do défice deste ano vai ser cumprido, nem que seja à custa de ainda mais medidas extraordinárias, tal como o lamentável negócio com a PT.

Expresso - E pensa que as medidas anunciadas são suficientes para acalmar os mercados, que têm vindo a penalizar Portugal, com forte aumento dos juros da dívida pública?
Por enquanto, provavelmente sim. No entanto, tudo vai depender se o governo irá conseguir, pela primeira vez, controlar o despesismo do Estado. Se dentro de uns meses, os mercados derem conta que as despesas públicas estão novamente fora de controlo, certamente que nos irão penalizar ainda mais fortemente.

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