27 outubro 2010

O DÉFICE ESQUECIDO


O relatório do FMI referido aqui também prevê que o défice externo português vai permanecer extremamente elevado. no próximo ano. Mais concretamente, o FMI projecta que o défice da balança corrente (exportações menos importações) em percentagem do PIB vai continuar a rondar os 10% em 2011, seguindo a tendência dos últimos anos (-11,6% do PIB em 2008, -10% do PIB em 2009, e -10%  do PIB em 2010). Como nem as transferências da União Europeia, nem as remessas dos emigrantes são suficientes para financiar este défice da balança corrente, o que isto quer dizer é que o nosso endividamento externo vai continuar a aumentar a um ritmo infernal, se não mesmo insustentável.
Mais: se nos compararmos a todos os países da União Europeia, verificamos que em 2011, Portugal terá o pior défice externo da Europa, bem acima de países como a Grécia ou o Chipre. Para percebermos porquê, basta olhar para o gráfico abaixo, que ordena o saldo das balanças correntes (em % do PIB) dos países da União Europeia. É visível que Portugal apresenta o maior desequilíbrio externo de toda a Europa. (Mais um dos tristes legados deste governo).
No entanto, inexplicavelmente (ou talvez não), continuamos em grande parte a ignorar o problema. Falamos muito na necessidade de apostar nos "bens transaccionáveis" (isto é, nas exportações), mas fazemos pouco por isso. E fazemos muito pouco para tentar limitar o ritmo de crescimento das importações. Continuamos a assobiar para o lado como o problema não fosse nosso. Fazemos mal. Pois este é um problema que, como é evidente, nos irá bater à porta um dia destes. Só esperemos que, nessa altura, o problema já não seja de tal modo grave que até a porta fique arrombada.

Gráfico _ Saldo da balança corrente em % do PIB nos países da União Europeia, 2011
 Fonte: FMI, Regional Economic Outlook, Europe

1 comentário:

ZeManL disse...

E quais são as medidas que o Governo (este ou qualquer outro ) pode tomar para inverter o saldo da balança comercial?
Estando o sector dos bens transacionaveis quase totalmente privatizado, como pode o governo interferir nas suas decisões de natureza produtiva/comercial ?
Com uma estrutura produtiva fortemente dependente das importações, como sair desta ratoeira?