03 outubro 2010

LEGADOS DESTE GOVERNO (1) _ DÍVIDA PÚBLICA

Um dos mais tristes e significativos legados deste governos vai ser deixar-nos a maior dívida pública dos últimos 160 anos. Sim, leu bem. Este governo vai legar-nos a maior dívida pública dos últimos 160 anos, ou desde 1850. Se não acredita, veja o gráfico abaixo, que apresenta os dados da dívida pública portuguesa em percentagem do PIB entre 1850 e 2010. Segundo as projecções do governo e da Comissão Europeia, em 2011, a dívida pública nacional atingirá os 91,1% do PIB, o valor mais alto da era moderna, um valor inclusivamente mais elevado do que o registado em 1890, quando Portugal foi assolado por uma grave crise financeira que nos fez declarar a bancarrota e que nos vedou o acesso aos mercados financeiros externos durante várias décadas. 
Vale a pena ainda referir que, contrariamente ao que é propagado pelo governo, a dívida pública nacional já estava em franco crescimento bem antes da crise financeira internacional de 2008, apesar de o ritmo de endividamento ter acelerado desde então. Isto é, não foi a crise internacional que iniciou  a espiral de endividamento do Estado.

E, como é óbvio, nestes números não estão incluídos nem a dívida pública indirecta (das empresas públicas), que já é igual a 24,3% do PIB, nem sequer os encargos com as parcerias público-privadas, que irão totalizar nada mais nada menos do que 2,5 mil milhões de euros a partir de 2013.
Por outras palavras, na sua ânsia de deixar obra feita a todo o custo e de "modernizar" o país com obras faraónicas, este governo cometeu o maior atentado geracional da nossa História recente. Quem irá pagar as dívidas de toda esta irresponsabilidade serão os nossos filhos e as gerações futuras. E quem irá lidar com este terrível legado serão os próximos governos, e, como é óbvio, os contribuintes. Mas, claro, estas são questões menores, quando comparadas com o espírito de sacrifício do nosso primeiro-ministro e com os benefícios do TGV e das novas auto-estradas. É que, ainda por cima, estas obras custam "pouco" nos próximos anos e, por isso, não precisam de ser abandonadas...

Gráfico _ Dívida Pública Portuguesa em % do PIB, 1850-2010

Fonte: 1850-1900: Neves (1994); 1900-1973: Mata e Valério (1994), 1974-2009: AMECO

Gráfico: Santos Pereira (2010)

3 comentários:

Guillaume Tell disse...

Lá vamos nós para dez anos de "ditadura financeira". Este governo fez de Portugal um daqueles países africanos que vivem para pagar as dívidas.
É pena não veremos este gráfico nos noticiários. Ou pelo menos a oposição deveria mostrar isso...
enfim.
Mas pessoalemente até acho bem teremos incompetentes a cabeça do país, talvez eu consiga ser primeiro ministro. LOL

Gi disse...

E o que acontece quando um país entra em bancarrota? Por exemplo, como estão a viver os islandeses?

Gosto do novo visual do blog.

Anónimo disse...

Não imaginam há quanto tempo estou a procurar este gráfico tão fundamental para a compreensão da historia económica portuguesa.
Gostava de ver também um semelhante, com o défice/superavit das contas publicas nas ultimas décadas em percentagem do PIB. Queria saber qual foi o ultimo ano em que Portugal teve superavit nas contas publicas anuais.
Já que pela observação do gráfico actual, uma descida pode significar apenas um aumento do PIB superior ao aumento do deficit.
Obrigado pela informação.