Ainda há uns meses, o primeiro ministro proclamava à boca cheia que Portugal era o campeão do crescimento na Europa, a prova provada, segundo ele, da justeza das políticas seguidas pelo governo no combate à crise económica. Infelizmente para todos nós, não foi preciso esperar muito para percebermos que nem a esfusiante e enganadora propaganda do primeiro ministro tem o poder para alterar o sofrível desempenho da economia nacional nos últimos anos.
Assim, segundo as previsões do mais recente relatório do FMI sobre a Europa, a economia portuguesa crescerá zero por cento em 2011. Vale a pena sublinhar que esta projecção foi feita antes de terem sido conhecidos os detalhes do novo pacote de austeridade do governo. Por isso, provavelmente, um crescimento de zero por cento será demasiado optimista em relação ao deverá acontecer em 2011.
Eu sei que previsões são previsões e devem ser sempre lidas com cautela. Porém, a tendência recessiva da economia nacional parece inexorável. Ainda assim, o que mais salta à vista nas previsões do FMI é a comparação do crescimento da economia nacional e o das restantes economias europeias. Para ser mais fácil visualizarmos o que está em causa, ordenei as previsões de crescimento do FMI para 2011 por ordem decrescente no gráfico abaixo, para termos uma ideia melhor do quão bom (ou mau) será o desempenho previsto da economia nacional.
Não é difícil de ver que as previsões (quiçá optimistas) são desoladoras. Pior que nós só a Grécia, que está a braços com uma gravíssima crise de finanças públicas que todos conhecemos. Todos os restantes países europeus deverão crescer bem mais do que nós. Mais concretamente, prevê-se que a Espanha cresça cerca de 0,7%, a Itália (ainda estagnada) 1%, o Reino Unido (também assolado por uma profunda crise financeira) 2%, e até a Irlanda (às voltas com uma enormíssima crise bancária) deve crescer 2,3%. Pior ainda, os nossos principais concorrentes da Europa de Leste vão todos crescer a taxas superiores a 2% ao ano. Enfim, mais do mesmo do que andamos a ter na última década: mais estagnação, mais crise económica, mais desemprego, mais emigração, mais divergência, e mais descrença das populações.
E, como é óbvio, enquanto não pararmos com as más políticas dos últimos anos, enquanto não levarmos a cabo algumas das reformas estruturais que o país tão urgentemente precisa, e enquanto não acabarmos de uma vez por todas com o despesismo do Estado, não iremos conseguir emergir desta triste situação.
Gráfico _ Taxa de crescimento do PIB real em 2011 na UE
Fonte: FMI, Regional Economic Outlook
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