Ninguém ou quase ninguém fala nisso, mas um dos problemas mais graves que temos nas nossas mãos é a continuada e prolongada baixa da natalidade nacional. Já há 25 anos que o número de nascimentos é inferior ao que é necessário para repôr a população, uma tendência que se tem vindo agravar quase sem parar desde então (ver gráfico abaixo). No último ano, e pela primeira vez em mais de meio século, o número de nascimentos foi inferior a 100 mil, um facto que poucos notaram e se importaram, apesar de algumas breves e passageiras menções na imprensa.
Infelizmente, ainda não percebemos a gravidade da situação. A verdade é que a baixa fertilidade terá enormes consequências sociais e económicas para o país, e é uma autêntica bomba-relógio para as contas públicas nacionais e para a Segurança Social. Ainda por cima quando nos deparamos com um retorno em força da emigração. Mas para quê preocuparmo-nos com o longo prazo quando temos problemas tão prementes no presente?
Taxa de fertilidade em Portugal, 1960-2010
Fonte: INE, Santos Pereira (2011)
3 comentários:
Bom dia,
O problema do Estado Social vai resolver-se, inevitavelmente, pelo lado pior, ou seja, terá de acabar tal como está. Haja muita população activa muita inactiva. É sabido que não se aguenta muito mais, uma vez que a Despesa comportada é muito superior à Receita.
Há meia dúzia de anos atrás dizia Cavaco Silva: "O que é preciso fazer-se para que nasçam mais crianças em Portugal?" Alguém lhe terá respondido sobre o que é preciso também que seja feito para assegurar que hajam empregos para essas crianças... Ele não terá tido, obviamente, resposta, como é evidente.
A redução da natalidade é uma evidência e, ao mesmo tempo, uma necessidade, por imposição da Economia. Já lá vai o tempo das famílias dos 4 e dos 5 filhos. Isso praticamente acabou na geração de que tem hoje 60 anos. É claro que há sempre aqueles grupos étnicos que têm filhos tanto na riqueza como na pobreza, encaixados em divisões exíguas do apartamento do bairro social, que bem jus fazem ao aforismo "tudo ao molhe e fé em Deus". Mas isso é uma excepção, como é óbvio. As pessoas hoje têm consciência das dificuldades; sentem a instabilidade de vida e falta de perspectivas económicas para o futuro, num país praticamente em recessão e, por isso se retraem nas suas funções de acasalamento. Bem, não certamente na consumação do acto que permite e desencadeia o milagre da vida, apesar de todo o stress da urbe no dia a dia, mas certamente no processo da fecundação.
A redução da taxa de fertilidade não é, para mim, o cerne da questão. O maior problema está no aumento da esperança média de vida. Isto, não do lado da redução da mortalidade infantil, que é absolutamente desejável, como é óbvio e que não é contabilizada aqui, mas do lado do aumento da faixa da 3ª Idade, sobretudo das pessoas com mais de 80 anos.
E este é que é o grande problema. É e será um problema cada vez maior, se quisermos pensar na Despesa com o dito Estado Social, e é um problema intrinsecamente social de qualidade de vida: da vida dos gerontes e da vida dos seus descendentes que não têm nem capacidade financeira nem logística nem tempo para auxiliar e cuidar condignamente deles. É um problema sério que afecta praticamente todas as famílias.
Ao nível das famílias ou agregados familiares, com o aumento da longevidade, as despesas aumentam mais do que o que elas podem suportar. Por outro lado, os sucessores na cadeia heridtária cada vez mais herdam menos e mais tarde, o que em tempo de crise também não ajuda.
E como não há sustentabilidade do Estado Social, seja pela redução da população activa (aqui entra a baixa fertilidade e o acentuado desemprego) seja pela crise económica e financeira actuais, o problema começa a tomar dimensões deveras preocupantes. Será uma calamidade no médio e longo prazos, infelizmente.
Caro Álvaro
O impressionante é que se trata de uma bomba relógio com 28 anos pelo menos. Tenho muito boa memória das discussões que houveram na minha disciplina de geografia do 12º ano em 1983, quando já havia avolumada informação e textos de análise dos problemas do crescimento zero em comparação com as medidas que já se tomavam em França e no norte da europa para estimular a natalidade. A aparente surpresa contemporânea quanto à falta de alunos e consequente excesso de professores e fecho de escolas, a insustentabilidade das reformas milionárias que a esquerda implementou na ressaca do PREC, são apenas mais uma das medidas da incompetência de quem nos tem governado.
Aguardo com alguma curiosidade as desculpas que vão ser alinhavadas. No entanto a da ignorância(como foi com a crise financeira de 2008) não poderá ser, pelo exposto.
Alguém reparou que num dos cartazes da "geração à rasca estava escrito QUERO ENGRAVIDAR? Será a lógica da produção sempre compatível com a lógica da reprodução?
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