10 março 2011

IMIGRAÇÃO MENOS EMIGRAÇÃO

A propósito dos números da emigração, alguns leitores perguntaram-me se o aumento da imigração que ocorreu nos últimos anos foi suficiente para compensar a saída dos portugueses desta nova vaga emigratória. A resposta é simples: não, não foi. Como podemos ver no gráfico abaixo, é verdade que a população estrangeira a residir em Portugal cresceu muito consideravelmente no final dos anos 1990 e no principío do novo século. Porém, nos últimos anos, a crise nacional e o aumento do desemprego têm feito diminuir os fluxos imigratórios para o nosso país, tendo, inclusive, originado um retorno de alguns imigrantes aos seus países de origem. 
Ainda assim, nos últimos 15 anos, recebemos quase 300 mil imigrantes, o que nos faz perguntar se este fluxo não será suficiente para compensar as perdas para a emigração. Não é porque, só entre 1998 e 2008, saíram cerca de 700 mil portugueses. É possível que alguns destes portugueses possam ter regressado, principalmente os que estavam a residir na Espanha e no Reino Unido, países onde o desemprego aumentou muito desde 2008. Porém, é igualmente provável que muitos dos novos emigrantes tenham optado por ficar nos seus países de destino. É que, sinceramente, não acredito muito no argumento de que a nossa emigração é agora essencialmente temporária, pois não só não temos provas inequívocas que isso seja verdade, como também, e principalmente, porque quem é ou já foi emigrante sabe muito bem que é extremamente fácil passar de uma situação de emigrante "temporário" a "permanente". É tudo uma questão de oportunidades, em Portugal e nos países de acolhimento.
O que é que tudo isto quer dizer? Que se subtrairmos os fluxos da imigração às saídas dos novos emigrantes, ficamos com uma diferença populacional negativa entre 200 mil e 300 mil pessoas (já contando com possíveis erros). Como é que saberemos se todos estes números se confirmam? Quando saírem os resultados do Censo lá mais para o final do ano. Certamente que não iremos ficar tão surpreendidos como o regime salazarista ficou na década de 1960 (quando se registou uma saída maciça de emigrantes portugueses), mas não seria de admirar se as actuais estimativas populacionais do INE se viessem a revelar demasiado optimistas.

População estrangeira em Portugal
Fonte: SEF, Gráfico retirado de Santos Pereira (2011)

1 comentário:

Pedro Teixeira disse...

Caro Álvaro,

De forma muito clara deixe-me dizer-lhe a minha opinião: as suas conclusões acerca deste tema (e ainda ligando com o tema do desemprego) estão erradas. Trata-se apenas de uma opinião, não sou sequer um expert.

O seu argumento é: o desemprego em Portugal aumentou ao longo de toda a década, e só não é ainda pior porque 7% da população portuguesa emigrou.

Eu refutei esse seu argumento em vários pontos já:
1. O desemprego aumentou na última década sim, mas não de forma continuada, em 2 momentos específicos - na crise 2002-2004, e depois da crise 2008.
2. A emigração aumentou, mas ao mesmo tempo aumentou a população e população activa, pelo que o efeito da emigração não fez baixar o número de pessoas à procura de trabalho.
3. O total de empregos gerados pela economia está em 2010 sensivelmente igual a 2001 (dados do INE).

Nos numeros que apresenta agora sobre emigracao e imigracao, dá a sensação que Portugal perdeu neste deve e haver 300.000 pessoas. Sendo que a taxa de crescimento organico da população portuguesa é nula ou negativa (http://epp.eurostat.ec.europa.eu/tgm/table.do?tab=table&init=1&language=en&pcode=tps00007&plugin=1), um tal saldo migratório tão negativo significaria uma redução da população e necessariamente da população activa - segundo o Eurostat/INE, isso não ocorre, pelo contrário (http://epp.eurostat.ec.europa.eu/tgm/table.do?tab=table&init=1&language=en&pcode=tsdde230&plugin=1).

Eu sou um dos 700.000 portugueses que emigraram ao longo da última década (durante 2 anos apenas, mas apareço nessa estatistica). Também apareço na população residente e população activa, porque regressei a Portugal. Assim como eu e a minha família, conheço mais 50 pessoas na mesma situação (apenas falando de um restrito grupo de colegas de trabalho!). O que quero dizer como isto é: não existiu uma debandada de 700.000 portugueses nos ultimos 10 anos. É normal que a emigração aumente nestes anos, mas o efeito principal nos ultimos 10 anos foi a globalização (ou de forma mais pequena a iberizacao) a nivel empresarial, que levou a uma grande quantidade de expatriacoes temporarias. Tal entra nas estatisticas da emigracao, mas é temporária.

Será que isto invalida o seu argumento de que existe um surto migratório? Não, de todo não invalida. Mas invalida o argumento de que, nos ultimos 10 anos, Portugal perdeu população activa devido ao saldo migratório.

Saberemos em concreto isto após os censos deste ano.