Quem ler os longos e densos relatórios das entidades independentes que monitorizam as nossas contas públicas não pode deixar de ficar impressionado com as constantes queixas de manipulações e manobras contabilísticas, de desorçamentações das despesas, bem como com a notória falta de transparência das contas do nosso Estado. Não interessa se a entidade em causa é nacional (o Tribunal de Contas ou a Unidade Técnica de Apoio Orçamental da Assembleia da República), ou internacional (o FMI, a Comissão Europeia, ou a OCDE), pois as queixas são sempre as mesmas: as nossas contas públicas são muito pouco transparentes e demasiado vulneráveis à criatividade contabilística dos nossos governantes.
Ora, sabendo que os nossos governantes conhecem perfeitamente estas críticas, por que será que não alteram os seus comportamentos desviantes? Por que é que os governos não se esforçam por manter uma contabilidade exemplar com os dinheiros dos contribuintes? A resposta é simples: porque não lhes interessa. A verdade é que se os nossos governantes admitissem que a contabilidade criativa tem sido uma das indústrias mais bem sucedidas dos últimos tempos, imediatamente seriam acossados por graves problemas de credibilidade. E é assim que hoje ninguém sabe realmente qual é a extensão do buraco orçamental do nosso Estado (só saberemos quando efectuarmos uma auditoria independente às nossas contas públicas). E é também assim que chegámos a um ponto em que este ano teremos a dívida pública mais elevada dos últimos 160 anos.
Por isso, e se ambicionamos inverter as más políticas do passado recente que nos têm condenado à estagnação económica, ao desemprego, à emigração, e a um excessivo endividamento, é fundamental avançar com um conjunto de medidas que aumente a transparência das nossas contas públicas. E, como é óbvio, é preciso acabar de uma vez por todas com a ideia que é moralmente defensável ou admissível transferir os custos das nossas loucuras financeiras para os nossos filhos e netos, bem como para os governos e os contribuintes futuros através do aumento da dívida pública e da realização de obras a crédito.
No entanto, é exactamente isso o que temos feito nos últimos 15 anos, com especial incidência para os últimos 6 anos. Por isso, é absolutamente imperioso acabar de uma vez por todas com estas práticas que só prejudicam Portugal. A economia nacional agradecerá e os nossos filhos ficar-nos-ão imensamente gratos, pois não ficarão sufocados com as dívidas dos seus pais irresponsáveis.
Nota: Meu artigo no Notícias Sábado de 5 de Março de 2011
2 comentários:
Por que não alteram os comportamentos desviantes? Essa é de fácil resposta: porque abrem o jornal e verificam que há notícias sobre actas que não correspondem à realidade e até sorteios virtuais para escolher pessoas...na PGR ou nos tribunais superiores ou no raio que os parta!!! Portugal é um paraíso para esta gente. É só isso!
É assim Sr professor, é só artistas de engenharia financeira.Averigue Parvalorem SA, Parparticipads SGPS, Parups Sa sem deixar de fora a Parpública.
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