O semanário Sol pediu-me para fazer uma antevisão da cimeira europeia e fez-me algumas perguntas sobre o nosso nível de endividamento. Aqui estão as minhas respostas:
SOL_ O que seria o cenário de uma vitória e uma derrota para Portugal nos resultados da Cimeira desta semana, em Bruxelas?
Sinceramente, neste momento e face ao cenário de descalabro orçamental e de total perda de credibilidade política, julgo que não há grandes possibilidades de termos uma “vitória” na cimeira europeia. Sabendo que vamos de ter de recorrer a mais ajuda externa (é preciso não esquecer que já estamos a ser ajudados pelo BCE desde o início de 2010), penso que o mais importante é que as condições que vamos tentar negociar não sejam demasiado gravosas para o nosso país.
Sinceramente, neste momento e face ao cenário de descalabro orçamental e de total perda de credibilidade política, julgo que não há grandes possibilidades de termos uma “vitória” na cimeira europeia. Sabendo que vamos de ter de recorrer a mais ajuda externa (é preciso não esquecer que já estamos a ser ajudados pelo BCE desde o início de 2010), penso que o mais importante é que as condições que vamos tentar negociar não sejam demasiado gravosas para o nosso país.
SOL_ Concorda que tem existido um excessivo foco na liquidez durante os últimos meses em detrimento de outros temas como as reformas estruturais? A preocupação com a grave crise de liquidez que estamos a viver há mais de um ano é muito natural. Se não fosse o BCE, já há muito que estaríamos a viver uma crise de liquidez ainda mais profunda, que teria implicações económicas muitíssimo dramáticas. Por isso, é normal que a ênfase tenha sido dada à falta de liquidez, que está a asfixiar a economia e as empresas nacionais. Dito isto, é igualmente importante perceber que este governo já anda a fingir implementar reformas estruturais há muito tempo. É óbvio que o país precisa de muitas reformas estruturais. Porém, este governo tem-se mostrado completamente incapaz de o fazer. É por isso que o foco não tem sido dado a esta área.
SOL_ Os mercados não acreditam em medidas de longo prazo dado o historial de incumprimento do país? Nós não temos um historial de incumprimento desde o século 19. Já tivemos crises financeiras, mas não tivemos situações de incumprimento desde 1892. Os mercados não acreditam em nós, porque este governo tem-se mostrado totalmente incapaz para fazer face às nossas dívidas e ao descontrolo orçamental. Ou seja, os mercados não acreditam em nós porque este governo não tem o mínimo de credibilidade.
SOL_ Na eventualidade de uma ajuda externa, será muito provável a introdução de novas medidas de austeridade? Que novas medidas prevê? As medidas de austeridade não acontecem por causa de uma eventual ajuda externa, mas sim devido ao descontrolo orçamental deste governo. Penso que teremos que implementar mais medidas. No entanto, não é possível pedir muitos mais sacrifícios aos portugueses. Os cortes e os ajustamentos têm de ser feitos ao nível do Estado, e não sistematicamente contra os contribuintes, contra as empresas e, agora, contra os pensionistas. Infelizmente, até agora o só se têm pedido sacrifícios aos portugueses, mas nada tem sido feito para cortar no peso do Estado. Penso que é aí que as novas medidas terão de ser pensadas e aplicadas. SOL_ O risco de bancarrota de Portugal é um cenário possível? Sim, o risco de incumprimento é um cenário muito possível e, quiçá, até provável. Porquê? Porque o nosso nível de endividamento é extremamente elevado, principalmente se tomarmos em linha de conta (como devíamos) as dívidas das empresas públicas (que são já mais elevadas do que 25% do PIB) e a dívida pública futura ainda não contabilizada, como é o caso das parcerias públicas-privadas (PPPs). Só nas PPPs teremos encargos futuros de mais de 48 mil milhões de euros nas próximas décadas. No meu próximo livro mostro claramente que todo este endividamento é demasiado alto e é, provavelmente, insustentável.
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