05 maio 2008

INFLAÇÃO E DESEMPREGO _ Perguntas dos Leitores (14)

O Quebra Ossos pergunta:
"Sendo a inflação inversamente proporcional ao desemprego, qual a posição que defende em relação à problemática “Desemprego ou inflação”? Qual a sua opinião em relação às medidas tomadas, pelas entidades competentes (europeias e nacionais), nesta matéria?
Uma dos temas mais debatidos na Economia é a suposta relação inversa entre a taxa de inflação e desemprego, tecnicamente chamada de curva de Phillips. A ideia é simples. Numa recessão, existe menos procura de bens e serviços, o que faz com que os preços tendam a baixar (ou, pelo menos, a crescer menos rapidamente). Por outro lado, como nas recessões a produção de bens e serviços tende a diminuir, as empresas vêem os seus stocks a acumular-se nos seus armazéns e, consequentemente, são forçadas a diminuir as suas produções. Como há menos produção, há menos necessidade de manter os mesmos postos de trabalho, de maneira que os despedimentos aumentam e a taxa de desemprego cresce. Neste sentido, quando há recessões, quase sempre há uma descida dos preços bem como um aumento do desemprego. Assim, a inflação e o desemprego movem-se em direcções opostas: a inflação cai e o desemprego aumenta.
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A mesma lógica também se aplica às expansões económicas. Quando há mais crescimento económico, há maior procura de trabalhadores, e o desemprego diminui. Por outro lado, a expansão conduz a um aumento dos rendimentos, e a procura de bens e serviços cresce. Como há maior procura, os preços tendem a subir, e a inflação aumenta. Isto é, em períodos de expansão, (quase sempre) os preços sobem e o desemprego diminui. Ou seja, mais uma vez, o desemprego e a inflação andam em direcções contrárias.
Ora, como o desemprego e a inflação andam desencontrados e em direcções opostas, parece que os governos têm um menu de alternativas entre taxas de inflação e o desemprego. Se um governo (tradicionalmente de esquerda) abomina o desemprego, a solução é simples: o Estado gasta mais, o que aumenta a procura global de bens e serviços, aumentando o emprego. Em contrapartida, os preços sobem, devido à mesma maior procura de bens e serviços. Se, por outro lado, um governo (tradicionalmente de direita) se preocupa mais com a estabilidade macroeconómica, então a prioridade é dada à estabilidade dos preços (isto é, a taxas de inflação pouco elevadas). Gasta-se menos, contraindo a procura de bens e serviços, o que diminui a pressão nos preços. Como se gasta menos, há menos procura de bens e serviços, e as empresas reduzem as suas produções, cortam nas suas forças de trabalho, o que faz subir o desemprego.
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E assim, à primeira vista, é fácil. É só escolher a combinação inflação-desemprego que mais nos satisfaz e tudo se resolve. Ou... será que não?
O problema com este raciocínio é que só funciona nos chamados choques da procura. Se o choque em causa for do lado a oferta, as coisas já não são tão simples e a relação inversa entre desemprego e a inflação simplesmente desaparece. Vejamos porquê.
Suponhamos que, como está a acontecer actualmente, os preços dos produtos petrolíferos aumentam significativamente. Devido à importância do petróleo como fonte de energia, os aumentos dos preços dos produtos petrolíferos faz aumentar os restantes preços, o que causa um aumento da inflação. Por outro lado, o aumento dos preços do petróleo aumenta os custos das empresas, o que as leva a cortar outros custos, tais como os salários... Para sobreviverem, muitas empresas diminuem as suas forças de trabalho, o que faz aumentar o desemprego.
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Ou seja, num choque de oferta como este (um choque negativo), a inflação sobe e o desemprego também. Não há nenhuma relação inversa entre as duas variáveis. O oposto ocorre com os choques de oferta positivos, principalmente quando há uma aceleração das inovações tecnológicas. Nestes casos, se um governo insistir em escolher um menu de baixas taxas de inflação e mais desemprego ou vice-versa, tal governo estará a cometer um grave erro de política económica. A curva de Phillips não existe nos choques de oferta.
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Portanto, o que é que defendo na relação inflação-desemprego: prudência. A relação nem sempre existe e é imperioso não ser dogmático nesta matéria. O que é que prefiro? Mais desemprego ou mais inflação? Depende das circunstâncias. Ninguém gosta de mais desemprego, mas às vezes a estabilidade dos preços é importante para estabilizar a economia a atrair mais investidores.
Nesta matéria, como tantas outras em Economia, não há respostas lineares. E ainda bem, digo eu.

1 comentário:

Quebra Ossos disse...

Uma explicação muito clara.
Os meus Cumprimentos.
Bem Haja!