18 maio 2008

O EXEMPLO DE ESPANHA

Nos últimos anos, muitos apontaram a economia espanhola como o exemplo a seguir para sair do marasmo. A economia espanhola tem crescido a um ritmo apreciável nos últimos anos e, por isso, é apontada como um dos grandes casos de sucesso eurpeus. Ainda assim, é preciso notar que não estamos perante nenhum tigre ibérico, pelo menos por enquanto. Afinal, se compararmos o crescimento económico de Portugal e Espanha nos últimos 20 anos, só mesmo desde 1999 é que a economia portuguesa começou a divergir claramente em relação à Espanha. Entre 1986 e 1999, Portugal cresceu quase sempre mais do que a Espanha, com um pequeno interregno em 1994 e 1995. O fosso entre as nossas economias acentuou-se então nos últimos 7 anos.
Comparando as duas economias, é fácil percebermos as razões para a crescente divergência. Enquanto Portugal tem assistido a uma degradação concertada das exportações e do investimento, a Espanha tem tido um grande dinamismo da sua procura interna, não só devido a um desempenho admirável do consumo privado, como também do investimento. Apesar dos crescentes défices externos, as exportações espanholas têm também crescido bastante mais do que as portuguesas.
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O bom desempenho da economia espanhola demonstra que nem o carácter periférico nem a adesão ao euro, por si sós, constituem entraves insuperáveis ao crescimento económico português. De facto, as grandes diferenças entre a economia espanhola e a portuguesa resumem-se essencialmente a dois factores: política económica e estrutura.
Em primeiro lugar, é inegável que nos últimos anos a Espanha teve uma gestão macroeconómica muito mais competente do que Portugal. No final dos anos 90, perante exactamente as mesmas condicionantes internacionais que Portugal, o governo espanhol decidiu encetar uma série de reformas estruturais que fomentaram a liberalização e a desregulamentação da economia. Face a um aumento desmesurado do Estado, houve então uma estratégia deliberada de redução do peso do Estado na economia, através do corte de despesas públicas e dos impostos. Em claro contraste, Portugal não encetou nenhuma reforma económica de fundo e preferiu engordar o sector estatal sem o menor respeito pelas regras da boa gestão macroeconómica. O resultado está à vista: Portugal sofre para cumprir as regras do desacreditado Pacto de Estabilidade, enquanto que a Espanha está em superavit orçamental.
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Em segundo lugar, as diferenças de estrutura económica explicam em grande parte o acentuar das divergências entre os dois países. Designadamente, a economia portuguesa continua apoiada em sectores relativamente mais tradicionais do que a Espanha. É verdade que uma das grandes debilidades da economia espanhola prende-se com o sector exportador, que continua dominado em grande parte pelas indústrias de trabalho intensivo. Contudo, a estrutura dos sectores exportadores espanhóis é bastante distinta de Portugal. Nomeadamente, enquanto os têxteis e o calçado continuam a dominar as exportações portuguesas (apesar de um crescente declínio relativo nos últimos anos), as principais exportações espanholas são provenientes das indústrias automóveis, de metais e material de transporte, logo seguidas pela indústria química. Os sectores dos têxteis e do calçado correspondem a menos de 8 por cento das exportações espanholas. Consequentemente, a economia portuguesa está neste momento muito mais exposta à concorrência internacional da Ásia e da Europa de Leste do que a economia espanhola.
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Em suma, o desempenho da economia espanhola dos últimos anos é bom, apesar de não ser excepcional. A Espanha destaca-se actualmente porque a economia europeia tem tido uma performance medíocre. Mesmo assim, é inegável que de Espanha nos vêm lições de boa gestão macroeconómica, que muito nos poderão ajudar a perceber potenciais mecanismos de saída para a crise que vivemos actualmente.

1 comentário:

Anónimo disse...

Espanha não é exemplo. Ou se o é, então é um exemplo falacioso.

Não se podem comparar países com dimensões diferentes. Espanha tem um mercado interno e Portugal não.

Portugal não precisa de reformas estruturais. Isso é um mito.