07 outubro 2010

REGRESSO AO PASSADO

"Depois de uma década de estagnação e recessão, ouvem-se cada vez mais vozes para que Portugal regresse ao passado, adoptando novamente o escudo. A ideia de um retorno ao escudo é simples: se tivéssemos o escudo, podíamos desvalorizar a moeda, tornando as exportações mais baratas e as importações mais caras. Assim, uma desvalorização da moeda contribuiria para a diminuição do nosso elevado défice externo e ajudar-nos-ia a alcançar um maior crescimento económico (devido à subida das exportações). Por isso, um regresso ao passado do escudo é, sem dúvida, tentador.  
Ainda assim, e independentemente de pensarmos que o euro é a fonte de todos os nossos males económicos (não é...), uma saída abrupta da moeda única seria tudo o que não precisávamos neste momento. Porquê? Porque há inúmeros contras de uma eventual saída do euro. Porém, uma das principais razões para não sair seria, mais uma vez, o nosso malfadado endividamento. Como as nossas dívidas estão em euros, se voltássemos ao escudo e desvalorizássemos a nova moeda para fazer crescer as exportações, cedo chegaríamos à conclusão de que o nosso endividamento externo aumentaria proporcionalmente à desvalorização do escudo. Por outras palavras, se o nosso endividamento externo é preocupante com o euro, seria verdadeiramente insustentável com um novo escudo. Por isso, se algum dia sonharmos em abandonar a moeda única, seria bom se, primeiro, resolvêssemos o nosso grave endividamento externo. Se não, em pouco tempo veríamos que a emenda do escudo seria bem pior do que o soneto do euro."
Notícias Magazine, 21 de Agosto

8 comentários:

Anónimo disse...

O mal foi termos entrado no euro. Sair é bem difícil, mas não é impossível, e creio ser uma solução que é preciso encarar seriamente.

Se não tivessemos entrado, não só as nossas contas externas não teriam um desequilíbrio tão grande, como não poderíamos termo-nos endividado tanto, pois não suportaríamos os juros que nos seriam pedidos.

Há vários factores, obviamente, na génese dos nossos actuais problemas, mas eu por acaso acho que o euro é o principal. O facto de a nossa tão propalada perda de competitividade coincidr com a nossa participação na moeda única não é coincidência. Tomando apenas um exemplo: se tivessemos mantido o escudo, as nossas exportações para os outros membros da zona euro seriam agora cerca de 30% a 40% mais baratas.

Mas a saída do euro, sendo difícil e espinhosa, não é impossível, como disse no início. Eu diria mesmo que, no actual quadro institucional europeu, não temos outra alternativa. Mas seria necessário fazê-la acompanhar de uma reestruturação da nossa dívida externa, precisamente para obviar ao seu aumento em função da desvalorização do novo escudo. Isto não é inaudito: ver o que fez a Argentina para fazer face à sua crise de pagamentos.

Claro que aqueles que, lá fora como cá dentro, colocam a "Europa" e a ideologia europeísta no topo das suas prioridades e valores, tudo farão para impedir que seja quem for abandone o barco. Teremos todos de ir ao fundo juntos (mesmo os alemães, os grandes beneficiários do euro, pois os seus bancos estão fortemente "encalacrados" com dívida soberana de origem "PIIG".

Guillaume Tell disse...

A sua argumentação é muito convincente senhor Pedro, só não concordo com o que disse a respeito das nossa contas externas, o nível de endividamento e sobre a necessidade imperiosa de sair do euro. Porquê?
Primeiro, em relação as contas éxternas, porque as nossas contas seriam afectadas negativamente, com ou sem euro, pela entrada em força dos países emergentes nos mercados internacionais, devido ao facto de concorrermos ainda hoje nos mesmos segmentos de mercado.
Segundo, em relação ao endividamento, não se esqueça que Portugal começou a se endividar a partir de 1995(mesmo se até 1999 não era dramático), tenho por prova as taxas de poupanças do Estado e das famílias que passaram respectivamente de 20 e 15% do PIB em 1995 a 17 e 8% do PIB (fonte Eurostat). Bom, vai dizer-me que isso é por causa dos esforços do governo Guterres, que na altura teve que alinhar a inflação a as taxas de juros para entrarmos no euro, o que favorece o consumo e o crédito. Eu respondo à isso dizendo que este ajuste era necessário, com ou sem euro outra vez, e nada nos garante que Guterres não tivesse cometido, já a partir de 1995, os erros que cometeu após 1999 se não tivesse sido na altura obrigado de "arrumar a casa" para agradar a Bruxelas.
Terceiro, sobre a necessidade de sair do euro, isso seria um erro e aconselho a ler o escrito do senhor Santos Pereira publicado neste blog no dia 15/04/2010, que lhe explicará melhor que eu. Aproveito já agora para o aconselhar a ler o ponto V deste escrito que é, ao meu ver, uma das razões mais pertinentes para não sairmos do euro. Mas como eu lhe dei a minha opinião até este ponto ainda tenho que lhe dar uma razão pessoal para não sairmos do euro: a Europa para o seu bem precisa de mais união, ora se começamos a sair aos poucos de algo de tão comum fragilizamos ainda mais o processo de unificação. E se isso acontecer, nós, europeus, perdemos todos. Claro, temos que mudar as regras e o funcionamento da União mas não o faremos ao nos dividir assim.
Obrigado pela atenção e boa continuação.

Guillaume Tell disse...

Não façam atenção aos erros de ortografia; é que não tinha verificado os erros antes de publicar o comentário :P

democracia participativa disse...

Perfeitamente de acordo!A solução passará por haver duas moedas únicas umas para os PAÍSES extremamente endividados os tão famosos PIGS(Portugal,Irlanda, Espanha e Portugal ou então não conseguiremos ter soberania Nacional porque para sermos competitivos no mercado global tinhamos de ter crescimento de PIB para cima de 3%,o que nos tempos mais próximos digamos década será impossivel com a actual classe politica neste PAÍS.A época de criação de riqueza acabou infelizmente!

Guillaume Tell disse...

A época de criação de riqueza não acabou, está adiada.

Anónimo disse...

Obrigado pelas suas achegas, caro Guillaume Tell.

Faço apenas um comentário: eu não sou susceptível de ser influenciado por argumentação europeísta mais ou menos idealista. Estamos a debater problemas da economia e das finanças públicas portuguesas e os votos piedosos europeístas funcionam neste contexto umas vezes como ruído e outras como entrave.

Este meu ponto de vista não tem raízes "nacionalistas", pois até considero a UE uma organização paroquial e ensimesmada.

Guillaume Tell disse...

Caro Pedro, o seu "ódio" (com muitas aspas) para a Europa é compreensível, até atendível. Mas não se esqueça que Portugal tem mais a ganhar com a União em quase todos os pontos. Mais uma vez insisto neste ponto: temos que reformar a UE.
Boa continuação.

Anónimo disse...

Caro Wilhelm Tell,

Eu não tenho ódio nenhum, com ou sem aspas, à "Europa" (esta, sim, com aspas). Apenas pretendia evitar a contaminação pela ideologia de uma conversa sobre temas económico-financeiros.

O que Portugal e todos os membros têm a ganhar com a União é o facto de ela ser uma ampla zona de comércio livre. Mas isso já existia na EFTA e sem os constrangimentos políticos, monetários e cambiais a que agora estamos sujeitos. Infelizmente, a utopia aglutinadora de meia dúzia de pseudo-iluminados retirou muitas vantagens à participação na UE.

"Temos" que reformar a UE? Quem e como? Aquilo é um bloco centralista, dirigista e cartelista dificilmente reformável. Mas deixo algumas ideias: abolição do Parlamento Europeu (uma caixa de ressonância sem o poder de iniciativa legislativa), da PAC e da política de pescas comum, da Comissão Europeia; criação de uma comissão ad-hoc com o objectivo de passar a pente fino toda a monstruosa e asfixiante legislação e regulação, eliminando toda a que se revelar intrusiva, abusiva ou limitadora da liberdade económica; criação de uma comissão conjunta com a NAFTA e a EFTA com o objectivo de estabelecer uma zona de comércio livre integrando os três "blocos"; criação de mecanismos temporários susceptíveis de permitir a saída do euro com a possível "suavidade" aos países que possam desejá-lo (tenho a certeza que isto teria o apoio dos alemães, e as previsíveis objecções francesas de cariz napoleónico - a isto e a tudo o resto que sugiro - teria de ser ignorada, ameaçando-os com nova entrada pelas Ardenas, mas desta vez sem protecção anglo-americana;-)).

Como vê, é impossível reformar a UE! : )