O Jornal de Negócios fez-me umas perguntas sobre uma eventual privtização da Caixa Geral de Depósitos. Aqui estão as minhas respostas:
JN – A privatização da CGD é um assunto sobretudo ideológico?
É um assunto com algumas vertentes estratégicas, mas é, de facto, sobretudo ideológico. A verdade é que na grande maioria dos países da OCDE não há bancos públicos. Nos países com sistemas financeiros mais robustos e desenvolvidos, como o Canadá, o que há é uma forte regulamentação do sistema financeiro, de forma a evitar abusos e minorar riscos.
JN – Concorda com a privatização? Parcial ou total?
JN – Concorda com a privatização? Parcial ou total?
Penso que, actualmente, a questão não passa por concordar ou não. A triste verdade é que a privatização da CGD é provavelmente inevitável, face ao elevado estado de degradação das nossas contas públicas. A Caixa é a empresa estatal mais valiosa, de modo que a sua privatização se torna muito atractiva em qualquer estratégia de diminuição da dívida pública. Considero que, a médio ou longo prazo, faz sentido equacionar uma privatização total da CGD. No entanto, a curto prazo, e face ao excessivo endividamento da economia nacional, uma privatização poderá revelar-se um pouco problemática. Convém estudar bem a questão antes de avançarmos.
JN – O que pode um banco público fazer que um banco privado não pode? Um banco público pode ajudar o Estado a apoiar o si\stema financeiro em situações de emergência. Porém, ao fazê-lo, pode criar incentivos errados ou gerar comportamentos de risco excessivo por parte das instituições financeiras nacionais, o que não é bom. Um banco estatal pode (ou devia) ainda apoiar as empresas inovadores e empreendedoras, fornecendo-lhes um maior acesso ao capital de risco.
JN – E o que faz um banco público que não devia fazer? O problema de ter um banco público é que facilmente se torna num outro braço do nosso Estado tentacular. Como está vulnerável às investidas do poder executivo, a Caixa frequentemente se torna num instrumento adicional de política económica. Esta é uma situação indesejável, principalmente se as políticas do governo forem más para o país. O que é claramente o caso actual.
JN – Um banco do Estado não acaba invariavelmente por ser um banco do Governo? Claro que sim. E aqui é que está o problema.
Apesar da boa gestão que tem caracterizado a Caixa nos últimos anos, a verdade é que os governos imiscuem-se em demasia na sua gestão, obrigando a CGD a fazer negócios que não são de todo do seu interesse. O caso BPN é o mais paradigmático, mas há inúmeros outros exemplos. Também não concordo que os principais partidos disputem e reservem para si a gestão do banco estatal. A gestão devia ser feita somente por critérios de mérito e competência, e não por critérios políticos.
JN – O que pode um banco público fazer que um banco privado não pode? Um banco público pode ajudar o Estado a apoiar o si\stema financeiro em situações de emergência. Porém, ao fazê-lo, pode criar incentivos errados ou gerar comportamentos de risco excessivo por parte das instituições financeiras nacionais, o que não é bom. Um banco estatal pode (ou devia) ainda apoiar as empresas inovadores e empreendedoras, fornecendo-lhes um maior acesso ao capital de risco.
JN – E o que faz um banco público que não devia fazer? O problema de ter um banco público é que facilmente se torna num outro braço do nosso Estado tentacular. Como está vulnerável às investidas do poder executivo, a Caixa frequentemente se torna num instrumento adicional de política económica. Esta é uma situação indesejável, principalmente se as políticas do governo forem más para o país. O que é claramente o caso actual.
JN – Um banco do Estado não acaba invariavelmente por ser um banco do Governo? Claro que sim. E aqui é que está o problema.
Apesar da boa gestão que tem caracterizado a Caixa nos últimos anos, a verdade é que os governos imiscuem-se em demasia na sua gestão, obrigando a CGD a fazer negócios que não são de todo do seu interesse. O caso BPN é o mais paradigmático, mas há inúmeros outros exemplos. Também não concordo que os principais partidos disputem e reservem para si a gestão do banco estatal. A gestão devia ser feita somente por critérios de mérito e competência, e não por critérios políticos.
3 comentários:
Não se pode esquecer a intervenção da CGD no BCP que, a meu ver, foi uma vergonha. Gostava que comentasse. Obrigado.
O problema das privatizações em Portugal é que em regra geral elas só substituiram um monopólio público por um monopólio privado. O importante antes de privatizar é LIBERALIZAR, criar condições em que a concorrência seja respeitada. E nós não temos esse historial.
Além do facto de este não me parecer ser o melhor momento para privatizar o banco, porque não vamos tirar tanto dinheiro de essa operação como seria de esperar (deviamos o ter feito em 2007).
Carlos Mendes,
Tem toda a razão. O que se passou com o BCP, praticamente "tomado" por um partido político, foi muito grave. Mas parece que neste País ninguém liga a nada!
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